Sol

Naquela manhã, após uma noite de bebedeira recheada de reflexões, ele acordou disposto a fazer tudo diferente.
Estavam no quarto desconhecido, em um lugar talvez paradisíaco, que ele esteve relutante a aceitar visitar com determinadas companhias. Mas ali estava ela. Ao seu lado na cama, dormindo sobre seu peito enquanto seu braço passava por baixo da cabeça e a abraçava pelos ombros. Não havia acontecido nada naquela noite, além das reflexões e bebedeira. Não tinha motivos, não tinha desejo.
Talvez ele tenha perdido uns segundos a observando e, aparentemente, ao perceber seu despertar e observar, os olhos negros se abriram devagar, olhando pra ele com carinho, que o fez frear novamente, apesar de ser tudo sempre muito bom com ela. "Carinho, né?"
Ele sente o toque da ponta dos dedos dela em seu peito, um beijo no ombro de bom-dia, o abraço apertado que o segura mais uns segundos na cama. Mas ele não pode se permitir. Não agora. Não é o momento. Ela insiste em abraçá-lo e segurá-lo mais uns segundos na cama, ele ri sem graça, permitindo mais um tempo de carícias.
Se ouve o cantar dos pássaros e a luz do Sol passa pela fresta debaixo da porta. Já é manhã. É preciso levantar.
Ele pede que ela se levante primeiro, afinal, não gosta de tomar banho juntos. Ela resiste um pouco, fazendo um charme que ele finge se importar, mas que o cansa. Por que ela insiste? Ela é brisa fresca, passa devagar, você sente seu toque, sua carícia. Mas nem sempre isso te agrada, as vezes é fria demais.
Finalmente ela vai, e como uma rajada de vento retorna vestida, ela não se demora, é rápida e as vezes nos pega desprevenidos. Porém informa estar sem calcinha, como um bafejo, leve e suave. Seria alguma tentativa de algo? Ele não a olha, evita contato visual. Aproveitou o tempo que esteve sozinho para ver as redes e responder algumas pessoas. Principalmente aquela pessoa... tem batido saudade daquela pessoa...
Então se levanta, pega seus itens e se dirige ao banho. Despretensioso, se permite apenas banhar.
Ao retornar ao quarto desconhecido ele a encontra na cama, sentada e mexendo no celular. Será que ela também tem alguém, ou "alguéns" e aproveitou aquele momento para atualizá-los? Bom, não importa. Ela diz que não, mas isso realmente conta?
Se dirigem à cozinha. A corrente que ela produz instiga nele um senso cordial que não é usual. Ele faz o café para ela, comem juntos e se dirigem ao rio.
O dia está lindo, sem nuvens no céu, o canto dos pássaros, água cristalina, o Sol faceiro e agradável, o vento não é tão gelado, mas mesmo assim ela veste uma blusa de frio que a cobre até os joelhos. O sopro que produz começa a aquecer, mas ainda é muito singelo e tímido. Será que ela é sempre tão leve como brisa? Quase coisa nenhuma com coisa alguma. Sem graça.
Vão caminhando na margem, conversando, jogando pedrinhas no rio e vendo a vegetação local. Então. Realmente parece o paraíso.
O dia segue perfeito, muita troca de carinho, beijos, mas ela ainda parece distante.
É, deve ser o momento de me afastar de vez. Não é o momento. Não agora.


28/07/2020 - 22h26

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